
Garimpando a Serra da Canastra
Do Velho Chico ao Queijo
A Serra
Serra da Canastra
A Serra da Canastra está no Centro-Sul de Minas Gerais, e abrange as cidades de Sacramento, Delfinópolis, São João Batista do Glória, Capitólio, São Roque de Minas e Vargem Bonita. Ela recebe esse nome pois a Serra têm o formato do antigo baú canastra.
A ocupação da área ocorreu devido à busca dos bandeirantes por ouro e pedras preciosas, no século XVII. Com isso, foram formados pequenos povoados na região. Por causa da fertilidade do solo e da abundância de recursos hídricos, esses povoados cresceram e tornando-se cidades.
Uma das partes mais deslumbrantes do cerrado está localizado na Serra da Canastra. No local, existe um Parque Nacional (PARNA) que tem a função de proteger a área da devastação e da ocupação desenfreada. A Serra possui uma grande variedade de espécies e dispõem de muitos recursos ecológicos. Ela abriga animais ameaçados de extinção na fauna brasileira, como o tamanduá-bandeira, o lobo-guará e o pato mergulhão.
É na Serra que nasce um dos rios mais importantes do Brasil: o rio São Francisco, que junto com o rio Araguari forma a Bacia do São Francisco. A bacia abrange uma área de drenagem de cerca de 640 mil km², que corresponde a 8% do território nacional e percorre 2.830 km em sete estados brasileiros, passando por mais de 521 municípios. Sua exuberância é tanta, que o rio é apelidado de “Nilo Brasileiro”. Por meio de estudos recentes, foi descoberto que a nascente do Vlho Chico está localizada no município de Medeiros, MG. No entanto, a nascente histórica continua sendo em São Roque de Minas, MG; atraindo milhares de visitantes durante todo o ano.
Cercado de Saudade




Parque Nacional da Serra da Canastra
Criado em 1972, o Parque Nacional da Serra da Canastra (PNSC) está localizado na região Centro-Sul do estado de Minas Gerais. Sua área prevista é de 200.000 hectares e engloba as cidades de: São Roque de Minas, Vargem Bonita, Delfinópolis, São João Batista do Glória, Capitólio e Sacramento. O Parque foi criado com o intuito de proteger as nascentes de três bacias hidrográficas da região: a do baixo Paranaíba, a do alto São Francisco e a do Rio Grande. Preservar a fauna e a flora da região também é um dos motivos da criação do Parque.
A área da Serra da Canastra é uma Unidade de Proteção Integral, isso significa que os recursos naturais do local não podem ser usados de maneira direta, pois é necessário preservar alguns lugares para que as espécies não entrem em extinção. Para que essa unidade seja devidamente cuidada, um órgão foi designado para cuidar do Parque: o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio).
O ICMBio, é uma entidade de administração pública, uma autarquia em regime especial, criado pela Lei 11.516. Ele tem vínculos com o Ministério do Meio Ambiente e integra o Sistema Nacional do Meio Ambiente. Sua função é executar as ações do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, podendo propor, implantar, gerir, proteger, fiscalizar e monitorar as unidades de conservação (UCs) instituídas pela união. O Instituto realiza a recuperação de áreas degradadas nas UCs, fiscaliza e aplica multas aos responsáveis pelo não cumprimento das medidas de preservação e degradação ambiental.
Outro motivo para que Serra da Canastra fosse tida como uma Unidade de Proteção Integral é por conta da fragilidade de seus solos. Quando o homem começa a mexer no solo, como na época dos garimpos, isso causa uma erosão que, perto das margens do Rio São Francisco, pode gerar um assoreamento que diminui o leito do rio. Além disso, dentro da área do Parque não se pode arar e calcariar a terra, pescar e caçar.
Atualmente existe um conflito entre o Parque e os moradores locais. Pelo decreto 70.335.72, o PNSC foi criado com 200.000 ha, mas apenas pouco mais de 71.000 ha foram desapropriados e transformados em Parque. Após uma revisão do Plano de Manejo, foi constatada a necessidade de incorporar os 129.000 ha restantes, pois a redução da área nunca foi revogada pelo decreto. Sendo assim, o Parque teve de continuar com as desapropriações de terras, para incorporar o que falta. O decreto não pode ser revogado na atual legislação, somente uma lei federal pode redefinir a área do Parque e diminuir sua área. Enquanto essa lei não é votada, o ICMBio tenta conseguir o máximo de área possível.
Os distritos de São Roque de Minas. São João Batista da Canastra e São José do Barreiro, estão dentro da área do Parque, enquando o primeiro está completamente dentro da área o segundo tem apenas uma rua dentro do Parque. Em casos assim, o analista ambiental do ICMBio, Darlan Alcântara de Pádua, diz que a melhor solução é recortar essas regiões quando sair a nova área do PNSC.

Darlan Alcântara de Pádua, Analista Ambiental do ICMBio












Desapropriações
Quando o Parque Nacional da Serra da Canastra (PNSC) foi criado, em 1972, vários canastreiros tiveram suas terras desapropriadas. Segundo moradores essa primeira desapropriação foi truculenta, e por se tratar de uma época de Ditadura Militar, há relatos de militares pressionando os Canastreiros a sairem com tiros nos barris de leite. Darlan Alcântara de Pádua, afirma que houve truculêcia, mas por causa da “teimosia” de alguns moradores. “O Parque deu o primeiro prazo para o morador desocupara área, deu o segundo e no terceiro houve a truculência, pelo o fato do Parque ter levado a policia para tirar o morador.” Depois do ano de 2000, não houve truculências. O Parque não bateu de frente com nenhum morador e todas as desapropriações ocorreram tranquilamente.
Muitas das desapropriações foram pagas com Título de Dívida Agrária, para ser ressarcidos posteriormente, contudo até hoje têm pessoas que não receberam as indenizações.
O procedimento das desapropriações tem um processo, primeiramente o Governo manda um avaliador, para analisar a fazenda. Depois da avaliação, ele mostra ao proprietário o valor das terras e pergunta se concorda com o preço. Caso o fazendeiro não concorde, o Governo tenta uma nova negociação. Se essa nova negociação não agradar de novo, o Governo deposita o dinheiro na conta do proprietário e entra na justiça para saber se ele tem o direito a receber mais alguma coisa ou não. Porém, o fazendeiro já é desapropriado e deve sair das terras.
Muitas famílias do Chapadão da Babilônia estão na região há centenas de anos, e não querem deixar suas raizes e identidades. Reinaldo Sebastião de Almeida foi criado na Serra da Canastra e vive na região até hoje, segundo ele, pelo levantamento feito, sua família está na região há pelo menos 150 anos. Fez de sua fazenda uma pousada rústica que recebe turistas o ano inteiro. Ele afirma que "Eu me fiz aqui, eu não saio de jeito nenhum. Para isso vai ter que ter uma guerrilha".
Reinaldo também é presidente da Associação e Instituição Representativa dos Canastreiros, AIRCA, que luta para permanência do Canastreiro na região. Em São José do Barreiro, distrito de São Roque de Minas, também tem a Associação Comunitária de São José de Barreiro, com a mesma causa, caso regularize o restante das terras, existe uma rua do distrito que está dentro da área do Parque Nacional da Serra da Canastra.
Segundo Darlan, a área do parque só pode ser reduzida por meio de legislação federal, contudo todos os processos são demorados, tanto as desapropriações, quanto a criação de uma nova lei, com isso esse embate ainda vai durar muitos anos.
O Homem da Canastra

Garimpo
Como o próprio nome já diz, Minas Gerais têm diversos tipos de minas: de ouro, ferro, cobre, carvão, bauxita e muitas outras. A região da Canastra ficou conhecida pelo garimpo de diamantes, que iniciou-se por volta de 1930 e, por volta da década de 70 passou a usar maquinário para extração das pedras, em 1990 tornou-se ilegal pelo dano causado ao solo.
O garimpo fez com que a população da região aumentasse. Vargem Bonita, MG, chegou a ter 30mil habitantes e, muitos dos moradores atuais trabalharam na busca de diamantes. Em São José do Barreiro, distrito de São Roque de Minas, MG, uma grande parte da população foi garimpeira.
Segundo alguns moradores, a região era rica e quem trabalhou conseguiu ganhar muito dinheiro. Porém, muitos não sabiam administrá-lo e acabaram por perdê-lo; outros compraram terras e continuam até hoje na Serra ou nas cidades da redondeza, e alguns foram embora.
O garimpo foi proibido por ser uma atividade que afeta o meio ambiente, danifica as águas, perfura o solo e cria rejeitos. Apesar da proibição, ainda existem pessoas que o praticam ilegalmente: não é difícil, ver nas margens do rio São Francisco, pessoas tentando a sorte. Por ser uma área muito extensa, a fiscalização é bastante complicada.
Minas de diamantes na Serra da Canastra
Em contradição a essa proibição, em 2013, a empresa multinacional de mineração de diamantes DE BEERS comprou terras que ainda não foram desapropriadas e obteve uma licença para fazer pesquisas. Segundo relatos de moradores, tais pesquisas duraram um ano, afetando o solo e o meio ambiente. Ainda não se têm informações se a empresa vai entrar com pedido de extração dos diamantes. Enquanto isso a área é vigiada 24h por dia e somente funcionários tem permissão para entrar.
Segundo fontes, que trabalharam para a empresa, nas terras onde se encontra a mineradora existe uma nascente de água com 98% de pureza, e caso a mineração aconteça, essa água provavelmente será contaminada. Darlan Alcântara de Pádua, também afirma que o kimberlito, rocha onde se encontra os diamantes, está embaixo de um reduto de pato-mergulhão, espécie que há pouco tempo estava em extinção.
Patrícia Mesquita, fez um texto com diversos dados sobre a atividade da mineradora na região. Ela também fala sobre os danos que a empresa já causou e os riscos que uma possível extração pode causar. Acesse o link para ler o texto clicando aqui.
Há também outro kimberlito dentro da área do PNSC, localizado em Delfinópolis, MG. Ainda não existem estudos e nem indicativos de pesquisas nessa região.



Como era o garimpo de diamantes na Serra da Canastra
O vídeo a seguir é de 1991, a qualidade não esta muito boa, mas a partir dos 5 min e 50s do vídeo, é possível ver como é feita a extração de diamantes por meio de maquinário e qual é o impacto ambiental que isso causa




Cultura
No berço do Rio São Francisco, a religiosidade e a cultura caipira está presente na identidade do Canastreiro. A música sertaneja de raiz é o estilo preferido de uma grande parte da população da Serra da Canastra. Conhecemos Ernandes e Adilson, violeiros que cantam sobre a região e grandes clássicos desse estilo musical. Os dois são primos e junto com mais dois irmãos do Ernandes, Evando e Nengo, criaram o DVD Autênticos da Canastra, com músicas autorais que contam histórias do local.
A religiosidade, muito presente na vida do Canastreiro, vai desde a nascente do rio São Francisco até as estradas de terra, onde é possível ver que a fé move o povo.
No DVD Autênticos da Canastra, Adilson compôs uma música em homenagem a Nossa Senhora Aparecida.
A culinária também é uma forte referência cultural. Com a identidade mineira, na mesa do Canastreiro não falta queijo, goiabada e pão de queijo. Os bolos também são populares, como o de milho e o de fubá.
Tradições
Folia de Reis: a Folia de Reis é um festejo, de origem portuguesa, ligado às comemorações do Natal católico, trazido para o Brasil no inicio da formação da identidade cultural do país. Atualmente, a festa mantém-se viva nas manifestações folclóricas de muitas regiões do Brasil. O festejo tem um caráter profano-religioso e faz parte do ciclo natalino, realizado entre 24 de dezembro e 6 de janeiro, quando é comemorado o nascimento de Jesus.
A Folia é composta de quatro violeiros, um sanfoneiro, dois palhaços, o motorista da caminhonete, o percursionista com a zabumba e mais duas pessoas que carregam o estandarte com a imagem do menino Jesus, a santa virgem Maria e São José. De carro a folia vai até a porteira de propriedades rurais. Assim que todos descem do carro, em fila, a ladainha começa: o estandarte á frente, os músicos atrás e os palhaços dançando.
Festa de São Roque: a festa conta com uma novena realizada nas comunidades, barracas de comidas típicas, queima de fogos, missas todos os dias, programação infantil, grupos de oração, grupos de jovens, procissões, entre outros. Ocorre todos os anos no mês de agosto e é promovida pela paróquia municipal de São Roque de Minas
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São Roque (1295 d.c – 1327 d.c) é um santo da Igreja Católica Romana, que nos protege contra a peste e é o padroeiro dos inválidos e cirurgiões. É considerado, por algumas comunidades católicas, como protetor do gado. A sua popularidade, devido à intercessão contra a peste, é grande sendo padroeiro de múltiplas comunidades em todo o mundo católico, e de diversas profissões ligadas à medicina e ao tratamento de animais. A sua festa é celebrada no dia 16 de agosto.
Festa do Queijo Canastra: a festa conta com shows, exposições, rodeio, escolha da Rainha do Queijo e do melhor queijo Canastra da região. Realizada por muitos anos, a festividade reunia pessoas de vários municípios no entorno de São Roque de Minas. A tradição interrompida por motivos não explicados.

Folia de Reis
Turismo
Berço de nascentes, cachoeiras e belas paisagens, a Serra da Canastra recebe turistas o ano inteiro. Com a criação do Parque Nacional da Serra da Canastra (PNSC), a região ganhou visibilidade e o turismo tornou-se uma nova fonte de renda para a população. Para amantes do Eco Turismo e de aventura, a região oferece diversas opções como camping, cavalgadas, banho de cachoeiras, trilhas ecológicas, passeios de escuna e lanchas, trilhas de off road (4x4 e motocicletas), mountain bike e muitos outros.
O Turismo veio como uma nova fonte de renda para a população, com dezenas de pousadas e novos empreendimentos voltados para o turista, a região passou a utilizar do potencial turistíco, que além de ser lucrativo também é uma atividade que se feita corretamente não agride o meio ambiente.
Principal Atrativo:
A cachoeira Casca D’Anta é a maior queda do rio São Francisco, com 186 metros de queda livre. Considerada a maior atração da Canastra, ela pode ser visitada pela parte alta da Serra ou pela parte baixa, em ambos os casos com acesso pelas entradas do Parque.
Seu nome vem da árvore Casca D’Anta, que possui propriedades medicinais cicatrizantes. Pesquisadores dizem que que o animal anta, se esfrega no tronco da árvore para curar ferimentos superficiais.
Portarias:
Para se entrar no Parque Nacional da Serra da Canastra, existem quatro acessos disponíveis através das portarias:
01 - Portaria em São Roque de Minas, a 8 km da cidade.
02 – Portaria em São João Batista da Serra da Canastra, a 1 km de distância do povoado. São João Batista da Serra da Canastra localiza-se no alto da Serra da Canastra, caminho de entrada para quem vem de Araxá, MG.
03 – Portaria em Sacramento, a 65 km da cidade
04 - Portaria em São José do Barreiro, a 9 km do povoado. O distrito, pertencente a São Roque de Minas, fica a 14 km da cidade de Vargem Bonita, onde termina o acesso por asfalto e se inicia a estrada por terra.
Mapa com os atritivos da Canastra






Agropecuária
A agricultura familiar tem importância significativa para Minas Gerais. Ela produz 70% dos alimentos consumidos e é um importante segmento agropecuário do Estado. Segundo o último estudo sobre a realidade das agroindústrias, elaborado pela EMATER-MG, o estado tem cerca de 15,2 mil agroindústrias artesanais de alimentos, sendo que 72% são familiares.
De acordo com o último Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB da Agricultura Familiar mineira atingiu R$5,7 bilhões, ou seja, 10% do PIB nacional. É responsável pela produção agrícola de 44% do arroz, 32% do feijão e café, 44% do milho e 83% da Mandioca. Na pecuária, corresponde a 48% do leite captado, 34% do rebanho bovino, 30% do rebanho suíno e 28% do volume da avicultura.
O primeiro ciclo econômico na Serra da Canastra, em 1842, foi o do garimpo, seguido pela agricultura e pecuária, que persistem até hoje. Antigamente, a agricultura e a pecuária eram utilizadas apenas para subsistência e não para o mercado. Os moradores cultivavam a terra com suas próprias mãos e que o gado que criavam era uma renda que, apesar de pequena, importava para a região.
Atualmente, a economia dos municípios é baseada, mais destacadamente, na pecuária leiteira. De acordo com o Censo Agropecuário do IBGE de 2006, as áreas de pastagem naturais e artificiais de São João Batista do Glória, por exemplo, correspondem a 57,6% do total de terras utilizadas para a agropecuária. Em relação à área total do entorno do Parque Nacional Serra da Canastra (PNSC), as áreas utilizadas para a agropecuária nos municípios correspondem a, aproximadamente, 54%
Outra parte da renda local vem do cultivo de café, que aumentou devido ao baixo preço das terras e à mão-de-obra barata. A pavimentação da rodovia que liga Vargem Bonita à Piumhí, em 2006, estimulou ainda mais o investimento de produtores de Piumhí e de cidades paulistas, como Franca e Ribeirão Preto.
O milho também é uma das culturas que, junto com a soja, representam grande parte da renda local. O primeiro cereal costuma serve para a venda e pra o estoque de cilagem. Já a soja, costuma ser vendida em vários pontos da região ou, em alguns casos, até do país. Segundo André Oliveira Faria, produtor rural local, como ambos cereais possuem o mesmo processo de plantação, a rotação de cultura é entre os dois tipos, com o café intercalado: planta-se milho hoje, soja amanhã e café depois de amanhã, por exemplo.
A diferença entre os processos de 1842 e 2016 está no maquinário. O que antes era feito à mão, hoje é feito com plantadeiras, colheitadeiras, tratores, etc. Os processos das plantações de André são todos mecanizados, assim ele ganha mais tempo para realizar outras atividades, como: a vistoria das áreas plantadas, ajudar o pai com o trato do gado e, até mesmo, ter mais tempo para a família.
Além das plantações, muitas fazendas criam gado para gerar uma fonte de renda a mais. Os animais servem para o corte, produção de leite em escala industrial e até para a produção de queijo Canastra.


















